O arcebispo emérito Dom Aldo Pagotto afirmou em entrevista à Revista Veja que foi vítima de conspirações após resolver investigar desvio de dinheiro dentro da Igreja Católica na Paraíba. A entrevista foi publicada neste domingo (10).
"A questão administrativa e patrimonial da Arquidiocese estava bastante comprometida. Então começamos a colocar as coisas em ordem, com prestação de contas. Isso mexeu na posição de uns privilegiados. Havia coisas não muito bem resolvidas", afirmou Dom Aldo.
O arcebispo emérito afirma que mexer no bolso trouxe várias reações e acusações. "Essa reação partia de um grupo pequeno, mas muito bem articulado, formado por cinco padres. Passaram a acusar que o clero no estado estaria dividido, e outras coisas morais. Diziam que eu era ditador. Depois foram para os ataques pessoais de ordem afetiva e sexual. Aí foram para a baixaria mesmo, com acusações horrendas à minha pessoa e a outros padres também", destacou Dom Aldo.
De acordo com Dom Aldo, esses padres desfrutam de um poder financeiro que não queriam que fosse afetado. Ele ainda cita o Colégio Pio XII, que tinha um rombo de R$ 1,8 milhão quando assumiu a arquidiocese. "Havia um colégio aqui, o Pio XII, que eu tive que fechar quando cheguei porque havia uma coisa não resolvida ali. Era um colégio tradicional, de mais de 80 anos. Pedimos uma auditoria e fizeram de tudo para não fazer essa auditoria. Sempre me era aconselhado: 'Não é bom mexer com isso'".
Sobre a identidade dos padres, Dom Aldo ainda diz que sabe quem são e que os denunciou. "Eu sei quem são. Alguns nomes eu levei para a Santa Sé. Pelo menos o nome de dois, entre eles o que capitaneia, eu informei à Santa Sé. São padres muito bem posicionados aqui, veteranos".
Renúncia
Ainda na entrevista divulgada pela Revista Veja, Dom Aldo afirma que a renúncia não aconteceu por vontade própria, mas por uma determinação vinda diretamente do Vaticano. Devido à disciplina religiosa e ao respeito à hierarquia da Igreja, o agora arcebispo emérito foi obrigado a aceitar a determinação.
O anúncio oficial da renúncia de Dom Aldo aconteceu com a divulgação de sua carta em 6 de junho. Oficialmente, a alegação inicial é de que ele estaria passando por problemas de saúde.
Ainda no início do mês de junho, Dom Aldo conta que foi chamado a Brasília para conversar com o núncio apostólico, o representante do papa no Brasil. E, em nome do papa, o núncio o fez redigir sua carta de renúncia no mesmo dia.
"Fiquei lá (na Nunciatura Apostólica, em Brasília) uma manhã inteira. A conversa com o núncio foi de pelo menos uma hora. A sós, no gabinete dele. Ele recordou todos os fatos. Eu pedi, de novo, para ter acesso ao que eu era acusado, ao relatório ou ao dossiê. Ele disse: não se pode mostrar. Então, se é assim... Ele também não disse quem acusava. Ele aconselha. Eu também tirei minhas dúvidas. Ele disse: 'O papa está muito preocupado com você. É para o seu bem. Para o seu bem e para o bem da Igreja. Então, para o bem da Igreja e para o seu bem, você pense'. Eu cheguei a dizer: está bem, está muito certo, entendi tudo. Eu mesmo me choquei", explica Dom Aldo.
ClickPB
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