domingo, 19 de junho de 2016

Cunha ainda rejeita ideia de se tornar delator, mas nem tanto a de renunciar

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não quis ligar a TV. Preferiu não assistir à sessão em que a maioria dos colegas que integram o Conselho de Ética da Câmara votou pela aprovação do relatório que pede a cassação de seu mandato, na terça (14). "Não quis me irritar", justificou a um interlocutor. "Não posso comprometer minha capacidade de reação."

Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro,afastado do mandato desde maio sob a alegação de que age para atrapalhar as investigações de que é alvo, ele não se dá por vencido. Costuma dizer, diante das especulações sobre a perda do mandato e da possibilidade de prisão, que há "muita guerra pela frente".

O clima que cerca o peemedebista hoje, no entanto, evidencia que ele está longe do que foi seu auge. Às vésperas da votação do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, em abril, a antessala de seu gabinete tinha ao menos 20 deputados. Havia revezamento para falar com ele.

Atualmente, aliados escolhem horários insólitos para visitá-lo. Chegam ou muito cedo, às 7h da manhã, ou muito tarde, depois das 23h, para evitar a imprensa. Muitos pedem para usar as entradas alternativas da residência oficial, as mesmas que Cunha utiliza para entrar e sair sem ser visto ou filmado.

Afastado dos salões oficiais, abandonou terno e gravata. Fica de camisa e sapatos sociais. Passa os dias debruçado sobre os processos a que responde e os que atingem sua mulher e filha. Cita de cabeça casos semelhantes, reclama de perseguição da imprensa e teoriza sobre a "criminalização da atividade parlamentar".

Faz comparações para rebater as acusações de que manobra para protelar o desfecho de seu processo de cassação. Diz que, em outras ocasiões, a Casa levou um ano e meio para punir um deputado.

Defende-se dizendo que, se algum aliado é deslocado para comissões que avaliam seus casos, a mídia registra e critica, mas quando abrem espaços para quem ele considera um adversário, "ninguém diz que houve manobra".

'PIOR É GRAVAR'

Nos últimos dias, o peemedebista recorreu intensamente às redes sociais para negar uma série de reportagens sobre o que ele planeja para o futuro. "Agora, além de dizer que não vou renunciar, tenho que dizer que não vou delatar", disse recentemente.

Ele, no entanto, já não rechaça de maneira enfática a tese de que poderia abdicar a presidência da Câmara para tentar salvar o mandato, como pregam aliados. Já as especulações sobre se tornar um delator o irritam. Tem dito que quem alimenta esse noticiário quer isolá-lo.

Em reuniões privadas, refere-se depreciativamente ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que passou a colaborar com a Lava Jato para se livrar de uma condenação por desvios na Petrobras. "Pior do que delatar é gravar", sentencia.

Avalia que as turbulências criadas pelas revelações de Machado não ameaçam a permanência do presidente interino, Michel Temer, no Planalto. "A sorte é que a alternativa a ele é a Dilma. Ela não volta. Esquece", disse a um interlocutor.

Cunha tem evitado comentar sua relação com Temer. Qualquer resposta, avalia, será negativa. Se disser que conversam, haverá desgaste para o correligionário. Se disser que não, dirão que está isolado.

Os que o visitaram descrevem o peemedebista mais rechonchudo e cansado. O humor continua afiado. Recentemente ironizou relatos de que teria reagido com ira ao resultado do conselho. "Dei soquinho na mesa? Tipo aquele do Michel?", brincou.

Visto como algoz de Dilma, Cunha tem dito que é difícil projetar o que teria acontecido se tivesse tomado outra decisão sobre o impeachment e faz graça da própria situação. "Falam que a culpa é minha... Se eu tivesse os 367 votos que ela teve para ser afastada, não estavam dizendo que vou ser cassado."

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